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1,4 mil esperam tratamento em saúde mental em Mogi, diz Secretaria Municipal de Saúde Coordenadoria de Saúde Mental, da Prefeitura de Mogi, afirma que medidas têm sido adotadas para reduzir espera. Filho afirma que mãe se matou por causa da dificuldade de renovar receita para comprar remédio para depressão. Por Jamile Santana, G1 Mogi das Cruzes e Suzano 17/10/2017 09h34 Atualizado há menos de 1 minuto Ambulatório de saúde mental oferece atendimento psicológico e psiquiatrico em Mogi das Cruzes (Foto: Warley Leite/ Arquivo O Diário de Mogi) Ambulatório de saúde mental oferece atendimento psicológico e psiquiatrico em Mogi das Cruzes (Foto: Warley Leite/ Arquivo O Diário de Mogi) Ambulatório de saúde mental oferece atendimento psicológico e psiquiatrico em Mogi das Cruzes (Foto: Warley Leite/ Arquivo O Diário de Mogi) Mil e quatrocentas pessoas estão à espera de tratamento na área de saúde mental em Mogi das Cruzes atualmente, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. Ainda em 2013, o Ministério Público abriu um inquérito para apurar o atendimento psicológico e psiquiátrico na cidade. Na ocasião, a promotoria constatou em seu relatório que havia 4 mil pessoas na fila de espera. A investigação segue em andamento. A coordenadoria de Saúde Mental, que integra a Secretaria Municipal de Saúde e o Sistema Único de Saúde (SUS), afirma que "o serviço tem evoluído muito" e que por isso a fila diminuiu. Este tipo de tratamento é essencial para quem sofre de depressão, por exemplo. A doença afeta 4,4% da população mundial e 5,8% dos brasileiros, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). A depressão, apesar de ser uma doença severa, é tratável. Foi o acompanhamento médico e os medicamentos que proporcionaram, por muito tempo, uma vida normal à mãe de Lucas*. Ela se matou em 2016, aos 47 anos, em Mogi das Cruzes . "Minha mãe teve uma depressão severa a vida toda. Teve depressão pós-parto e depois uma crise profunda quando minha irmã mais velha faleceu, aos 9 anos, vítima de um aneurisma. Sempre que ela passava por um pico da doença, ela tentava sucídio, mas durante muito tempo, ela conseguiu ter uma vida normal", contou. Antidepressivos são medicamentos caros, mas em muitos casos, é o que garante uma vida normal à pessoas com depressão grave (Foto: Reprodução / TV Tem) Antidepressivos são medicamentos caros, mas em muitos casos, é o que garante uma vida normal à pessoas com depressão grave (Foto: Reprodução / TV Tem) Antidepressivos são medicamentos caros, mas em muitos casos, é o que garante uma vida normal à pessoas com depressão grave (Foto: Reprodução / TV Tem) O jovem de 27 anos conta que a mãe tinha um trabalho, tomava medicamentos e conseguia, vez ou outra, passar por acompanhamento médico. O cenário começou a se agravar quando ela perdeu o emprego e não conseguiu renovar as receitas para comprar os antidepressivos, por falta de atendimento na rede SUS. "Ela nunca ficava sozinha, sempre tinha alguém da família para cuidar dela, fazer companhia. Mas o que foi determinante para ela não voltar da última crise foi a falta de medicamento", contou. Antes de morrer, a mãe de Lucas tentou marcar psiquiatra pelo SUS para fazer acompanhamento e renovar a receita, que estava prester a vencer. "Minha mãe estava tomando remédio, mas tentava um acompanhamento psiquiátrico desde 2010. Ela buscava renovar a receita e médico nenhum queria atualizar, que não fosse um psiquiatra, que ela não conseguia vaga. Uma semana sem o remédio foi o suficiente para ela piorar muito e se suicidar. A morte da minha mãe, poderia ter sido evitada". E continua: "Na minha casa, não faltou tentar tratamento. Minha mãe correu muito atrás. Não faltou amor, não faltou compreensão e cuidado. Faltou a gente conseguir ajuda profissional" No dia em que a mãe de Lucas* tirou a própria vida, a família havia acabado de conseguir uma consulta particular num psiquiatra da cidade. "A gente tinha juntado dinheiro para levá-la ao médico particular, mas não deu tempo", lamenta. Lucas* faz acompanhamento psicológico para lidar com a morte da mãe. "É preciso mudar a forma como o SUS trata a depressão e é preciso melhorar o acesso aos medicamentos porque muitas vezes é o que garante uma vida mais normal a quem sofre de depressão", conclui. Esse cuidado e acolhimento da famílias é essencial, segundo a psicóloga e psicopedagoga especialista em perdas, luto e suicídio, Ivone Aparecida da Silva, voluntária do Centro de Valorização da Vida (CVV). "É preciso fazer esse abordagem e sem julgamento, para que a pessoa se sinta acolhida e à vontade para falar sobre o assunto e aceitar ajuda para passar por esse fase depressiva. No entanto, há casos graves de depressão que devem ser acompanhados por psiquiatras, psicólogos e medicamentos", destaca. Mas, segundo a especialista, há um empecilho grande no trato de pessoas com depressão. Os tabus sobre a doença, a complexidade do que pode desencadear a condição depressiva, a falta de estrutura médica disponível gratuitamente no SUS e o valor dos remédios, são alguns deles. "O CVV entra nesse processo como um apoio às pessoas que queiram conversar sobre como elas se sentem e isso pode aliviar a situação fazendo a pessoa enxergar que existem saídas, que não o suicídio, para aquele problema que ela esta passando. " O professor de psicologia na Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), supervisor de psicologia especialista em análise do comportamento pela USP, Carlos Alberto Aleixo, compartilha do mesmo entendimento. Ele explica que é importante que o tratamento da depressão seja feito simultaneamente com diferentes especialistas e que, na rede SUS, nem sempre isso é possível. "Em casos mais graves de depressão, é preciso fazer um tratamento farmacêutico, para igualar os níveis fisiológicos no organismo da pessoa doente ao mesmo tempo em que ela faz uma psicoterapia, que pode, inclusive, se estender aos familiares. Os medicamentos são caros e o psiquiatra receita o que acredita que será melhor para o paciente, mas existe um período de testes de adaptação. Nesse período, o que vai segurar uma pessoa depressiva, são as terapias. No SUS não tem estrutura para lidar com a doença desta forma simultânea. Quando tem, as vagas são restristritas. Mogi das Cruzes ainda tem a vantagem de contar com duas universidades com cursos de psicologia, que fornecem esse atendimento social, cobrindo essa lacuna", detalhou. Saúde Mental em Mogi Em nota, a coordenadoria de Saúde Mental, que integra a Secretaria Municipal de Saúde e o Sistema Único de Saúde (SUS), informou que "o serviço tem evoluído muito e promovendo facilidade de acesso aos pacientes. A demanda reprimida atualmente gira em torno de 1,4 mil pacientes adultos, entre eles pacientes de outros municípios da região, em função da municipalização do Ambulatório de Saúde Mental realizada pela Prefeitura de Mogi das Cruzes. Não há demanda reprimida para psiquiatria infantil, com atendimento imediato a todos os casos recebidos", informou a Secretaria Municipal de Saúde. Ainda de acordo com a Prefeitura, para reduzir os prazos entre os pacientes adultos e ampliar o atendimento, "a Secretaria Municipal de Saúde promoveu o matriciamento de profissionais para atendimento em Saúde Mental. Isso quer dizer que médicos de outras especialidades que possuem afinidade com psicologia passam por uma capacitação e podem atender alguns casos. A secretaria também informou que promove mutirões periódicos (um sábado por mês, com atendimento médio para cerca de 200 pessoas)." A nota continua informando que, atualmente, "a Rede Básica conta com 15 psicólogos e 5 médicos (um psiquiatra infantil, um psiquiatra adulto e três clínicos matriciados para atendimento em Saúde Mental). Ainda neste ano, um novo concurso público será realizado." De acordo com a Prefeitura, são feitos, em média, 600 atendimentos psicossociais por mês, entre consultas com psicologos, psiquiatras, terapias de grupo, psicoterapia, administração de medicamentos e visitas domiciliares. Rede de apoio Postos de saúde A Secretaria Municipal de Saúde realiza atendimento psicológico em livre demanda, ou seja, não há a necessidade de agendamento nas unidades que contam com psicólogo em dias e horários pré-estabelecidos (confira na tabela abaixo). Nestas unidades, os pacientes são inseridos em terapias de grupos ou individuais. Em alguns casos, o paciente passa por acupuntura ou auriculoterapia. Também são realizadas terapias em grupo com família e discussão semanal dos casos para encaminhamento dos casos mais graves para médicos psiquiatras. Esses atendimentos fazem parte da Rede de Atenção em Saúde Mental, formado pelo Ambulatório Municipal de Saúde Mental, Caps II e Cecco. Universidades Na Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), há atendimento psicológico gratuito. Os interessados devem ir até a Clínica de Psicologia, na Avenida Dr. Cândido Xavier de Almeida de Souza, 200, para fazer o cadastro pessoalmente. Na Universidade Braz Cubas (UBC) também há atendimento gratuito oferecido pelo curso de psicologia. O atendimento é destinado apenas para adultos na modalidade Psicoterapia Breve (realizada por tempo determinado, chegando no máximo a 1 ano e meio). Para ser atendido, é preciso ir à Clínica de Saúde, na Av. Francisco Rodrigues Filho, 1233, e preencher uma ficha de inscrição. Em seguida, a pessoa é chamada para triagem e sendo um caso que pode ser atendido na Clínica as sessões são agendadas. Os atendimentos são realizados por estudantes do último semestre de psicologia. De acordo com a UBC, atualmente não há triagem aberta, mas a pessoa pode preencher a ficha de inscrição. Uma nova triagem será aberta em fevereiro de 2018. O tempo médio de espera entre a triagem e o início de atendimento é de 3 meses. A clínica funciona de segunda a sexta-feira, das 9h às 20h, no térreo do prédio da Saúde. O telefone para contato é o 4791-8240. Centro de Valorização da Vida Mogi das Cruzes conta também com um Centro de Valorização da Vida (CVV). "O objetivo do CVV é prevenir suicídios, dar atenção a quem precisa de apoio emocional", declara a coordenadora do CVV, Madalena Antônia da Silva Ribeiro. Segundo ela, o serviço atua gratuitamente e sob sigilo atendendo a população que passa por um momento difícil e precisa desabafar. "Nosso trabalho é ouvir. Não damos opinião, não julgamos. Apenas ouvimos de forma diferente." Atualmente a entidade oferece atendimento durante quatro horas por dia, mas a expectativa é conseguir oferecer durante 24 horas, dependendo do número de voluntários disponíveis. Rede de Atendimento Unidades públicas (Atendimento psicológico livre demanda (sem necessidade de agendamento) UBS Jardim Camila : segunda-feira, às 15h - Rua Presidente Getúlio Vargas, 999, Jardim Camila UBS Jarim Ivete: sexta-feira, às 7h30 - Avenida Pedro Machado, 1441, Jardim Ivete Ambulatório de Saúde Mental: de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h - Rua Coronel Souza Franco, 205, Centro UBS Santa Tereza: quinta-feira, às 9h30 - Rua Kazumo Sumizono, 1881 - Vila Paulista UBS Jundiapeba: segunda, quarta e quinta-feira, às 7h30 - Rua Dolores de Aquino, 601, Jundiapeba UBS Jardim Universo: quarta, a partir das 8h - Rua Dom Luíz de Souza, 136, Jardim Universo Fonte: Prefeitura de Mogi das Cruzes *Nome fictício para preservar a identidade do entrevistado.
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